[Gangues de Nova York tem seus defeitos, mas é mais um excelente filme na lista de Scorcese]
Muito se falou à época que este Gangues de Nova York era uma empreitada descabida de Martin Scorcese para conseguir ganhar, finalmente, o seu tão sonhado Oscar (posteriormente ganho com Os Infiltrados). Ainda que este fato não agrade a todos, é preciso reconhecer que o resultado é um trabalho interessante e bem-feito.O filme não é nenhuma obra-prima em inovação, mas ainda assim é um belo épico, com um visual magnífico, boas atuações e agradável história.
Na Nova York do século XIX, diferentes gangues tomam conta da cidade, com destaque para os Nativistas (norte-americanos) e os Coelhos Mortos (irlandeses). Amsterdam Vallon (Leonardo DiCaprio) é um jovem que quer vingar a morte de seu pai, ex-líder dos Coelhos, que fora assassinado anos antes pelo líder dos Nativistas, Bill Cutting (Daniel Day-Lewis), quando ainda era criança. Depois de ficar preso na Irlanda por 16 anos, Amsterdam volta para "Cinco Pontas", onde pretende se vingar dos Nativistas e restaurar o poderio da gangue de seu pai.
Mostrando um parte da história dos EUA desconhecida de boas partes das pessoas, o filme consegue atiçar a nossa curiosidade para compreender como estes grupos funcionavam. E ele consegue de forma brilhante, mostrando a sua influência nas diversas camadas sociais e até mesmo na política. Ainda que em certos momentos este retrato seja excessivamente detalhista, são detalhes muitas vezes interessantes. Um exemplo é a cena da execução, que poderia ser facilmente simplificada para um mesmo entendimento, mas que se mostra curiosa e angustiante. Quem não for fã de filmes longos, pode se decepcionar, mas é visível que nenhuma das cenas é colocada ao acaso ou de forma inútil. Há um cuidado especial com cada uma delas.
Do outro lado da história, há a trajetória de redenção de Amsterdam. Ele chega a Nova York e se junta aos remanescentes do ex-grupo de seu pai, agora desfigurado e completamente subordinados aos Nativistas. Ao dar uma volta pra reviver seus tempos de infância, ele se depara com a mudança de caráter de diversos ex-membros do grupo, com destaque para Happy Jack (John C. Reilly). Nada é mais como era antigamente. Porém, Amsterdam tem a sorte de se tornar amigo proxímo de Bill, adquirindo a sua confiança e afeto. Isto se provará crucial para que consiga certa proteção, ainda que ele esteja mais suscetível a uma possível descoberta de sua verdadeira identidade.
Gangues de Nova York possui vários e bons personagens para as suas quase três horas de duração, todos interligados de forma pertinente. O destaque fica claro para o trio principal e para Jim Broadbent, como o Prefeito Tweed. Muito se questionou a participação de Cameron Diaz na história, mas para o bom roteiro proposto ela se mostra extremamente importante, constituindo-se no principal motivo da reviravolta principal do filme. O elenco, de forma geral, entrega boas atuações, com destaque total para Daniel Day Lewis, perfeito como Bill, o açougueiro.
É preciso ressaltar que além de um história de redenção, o filme traz também um retrato preciso da Nova York e dos EUA do século XIX. Desde a Guerra Civil Americana, com o confronto entre o Norte e o Sul, a questão da escravidão e do preconceito racial, a chegada dos irlandeses provenientes da metrópole Inglaterra, entre outras coisas. Tudo ressaltado pela excelente reconstituição de cenários e figurinos, num trabalho artístico fantástico.
Porém, muito se criticou o filme de Scorcese, por ser um longa supostamente feito para premiações. No entanto, apesar de isso ser parcialmente verdade, é preciso ressaltar que o trabalho tem muitas qualidades que, se analisadas isoladamente, resultam em um grande filme, muito bonito e agradável. As quase três horas podem realmente ter sido um exagero, mas é um presente pra quem gosta de filmes ricos em detalhes interessantes.
Nota: 8,5
Título Original: Gangs of New York
Direção: Martin Scorcese
Gênero: Ação, Drama
Duração: 166 min
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