[Longe do Paraíso funciona como drama, mas ganha pontos pelo retrato social]
Em meados da década de 50, nos EUA, predominava na mídia a idéia do "American Way of Life" (o modo de vida americano), que seria marcado, entre outros, pela união familiar e pelo crescimento individual com dignidade. Esse conceito, importante meio propagandista para supostamente diferenciar o bloco socialista do capitalista, nos é apresentado desde o começo pelo "modelo" da família Whitaker. A mãe, Cathy (Juliane Moore), prima pela educação e pelos bons modos; enquanto o marido, Frank (Dennis Quad), é um homem bem-sucedido e que vem trabalhando para aumentar sua reputação dentro de sua empresa. Juntos, são uma referência para toda região de Hartford.
A quebra do prestígio dessa família, que ainda conta com dois filhos "exemplares", é um dos objetivos do diretor e roteirista Todd Haynes. Como bem diz o título, o que a trama irá nos mostrar é o outro lado da bonança, do louvor, do "paraíso". São pequenas reviravoltas que irão marcar a família e sua imagem pra o resto da comunidade. O estouro da "bolha" em que se encontravam expõe exatamente a contradição no interior dos personagens. É o conflito da aparência externa e da felicidade interna; do que os deixa satisfeitos e do que deixa os outros satisfeitos.
A temática escolhida pra mostrar esse conflito, que permeia os dois personagens principais, inclui dois temas fortes e de muitas ramificações. E é aqui que Todd Haynes e seu longa perdem alguns pontos de execução e roteiro. A trama, curta para o debate, por vezes deixa de aprofundar a questão, deixando algumas partes soltas e com aparência apressada. Ao invés de focar em uma, e deixar a outra para complemento, o diretor resolve tratar as duas de forma igual, com Cathy no meio, beirando a superficialidade. Ainda que cenas interessantes despontem a todo momento, fica a sensação de um vazio incômodo; um vazio passível de ser preenchido pelo contexto sólido da época.
Por fim, vale ressaltar alguns vários aspectos positivos do longa, como a brilhante atuação de Julianne Moore (que se supera) e a bela fotografia, até compatível com a vivacidade dos Whitaker. E não se engane com as minhas colocações no parágrafo anterior: Longe do Paraíso é um filme acima de média e que, onde perde em profundidade, ganha em interpretações e coragem por trazer estes temas para o grande público "mainstream".